Famílias denunciam comida azeda em penitenciária de Londrina
Detentos da PEL 3 relatam problemas com alimentação após troca de fornecedor.
Familiares de presos da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 3) relataram problemas na qualidade da alimentação fornecida aos detentos. Segundo as denúncias, a comida chega frequentemente azeda às celas, obrigando muitos internos a passarem o dia sem se alimentar adequadamente.
As reclamações se intensificaram a partir de outubro, coincidentemente o período em que um novo fornecedor assumiu o serviço de alimentação da penitenciária. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) e o Departamento de Polícia Penal (Deppen) confirmaram que estão acompanhando o caso para verificar as condições relatadas.
Relatos de familiares e detentos
Uma mulher, esposa de um dos internos, descreveu o agravamento da situação.
“Eles abrem a marmita e já sentem o cheiro de comida azeda. Isso tem acontecido quase todos os dias”, afirmou, preferindo não se identificar. Segundo ela, o problema é generalizado e afeta todos os detentos. “Meu marido e outros presos têm sobrevivido com o que os familiares levam durante as visitas.”
O olhar abatido dos detentos preocupa os parentes. “Eles não falam muito, mas dá para ver a fome e o desânimo”, disse a mulher.
Carlos Enrique Santana, integrante do Movimento Nacional dos Direitos Humanos no Paraná, relatou ter recebido 28 denúncias de familiares sobre o mesmo problema. Ele classificou a situação como desumana. “A alimentação é um direito básico. O Estado precisa garantir condições mínimas, mesmo para quem está preso, porque as famílias não cometeram crime algum para enfrentar essa situação”, afirmou.
Respostas das autoridades
Em nota, o Ministério Público do Paraná informou que a 13ª Promotoria de Justiça de Londrina está monitorando a situação extrajudicialmente, em contato com órgãos administrativos. O órgão destacou que as reclamações podem estar relacionadas ao processo de transição do fornecedor de alimentação, iniciado no início de outubro.
O Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen) também se manifestou, explicando que a alimentação dos custodiados é de responsabilidade de uma empresa terceirizada, que assumiu o contrato no último mês. O órgão afirmou que possui uma Comissão de Alimentação encarregada de verificar diariamente o peso, a temperatura e a conformidade do cardápio.
“Qualquer ocorrência ou desvio identificado é imediatamente investigado e corrigido”, garantiu o Deppen em nota.
Impacto das denúncias e próximos passos
As denúncias de má qualidade na alimentação chamaram atenção para a vulnerabilidade enfrentada por detentos e suas famílias. Segundo Santana, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, “a questão vai além da qualidade da comida; é um reflexo de um sistema que precisa ser revisto, garantindo dignidade mínima mesmo para quem está cumprindo pena.”
As investigações seguem sob responsabilidade do MP-PR e do Deppen. Não foram informados prazos para a conclusão das averiguações ou medidas corretivas.
Questão humanitária e obrigação do Estado
Especialistas lembram que, apesar das penas impostas, os presos mantêm direitos básicos garantidos pela Constituição. A alimentação adequada é um desses direitos, considerado essencial para garantir a dignidade humana.
A situação da PEL 3 reflete um problema maior em sistemas penitenciários do Brasil, que frequentemente enfrentam denúncias de superlotação, más condições e negligência.
Familiares esperam que as investigações tragam mudanças. “Eles estão presos, mas não podem ser tratados como menos do que humanos”, disse uma mãe de outro detento, reforçando o apelo por condições mínimas de sobrevivência dentro das prisões.